quarta-feira, 26 de março de 2008

Gerenciar as pessoas é fundamental na gestão do conhecimento

Por Heitor José Pereira*


Quando entramos no ambiente de trabalho de uma organização, é comum encontrarmos os profissionais divididos fisicamente de acordo com os papéis que desempenham. O que não fica tão aparente é que a divisão física acarreta uma segmentação do conhecimento, que passa a ser gerado por departamentos. Por isso, é preciso rever o tradicional modo de gerenciar as equipes, para que seja possível aproveitar o trabalho do todo, criando uma interação holística, e não apenas ver a organização como a simples junção dos setores administrativo, financeiro, de comunicação etc.

Ainda sobre esse tema, acredito que muito se tem falado sobre as questões da liderança, e pouco sobre as questões do time e da capacidade que um grupo tem de criar novas soluções a partir das experiências coletivas. Hoje, mesmo com o avanço dos meios de comunicação e da informática, que diminui as dimensões espaço/tempo, a departamentalização física dos escritórios ainda diminui o fluxo de informações entre funcionários que exercem tarefas diferentes. Isso faz com que as pessoas tenham acesso somente às opiniões daqueles que compartilham dos mesmos processos e tarefas, sendo que a visão de uma terceira pessoa, imparcial ao problema, é muito importante.

Para que fique um pouco mais claro como um ambiente sem as tradicionais barreiras pode trazer benefícios, imagine uma empresa de softwares que deseja criar um novo programa para operacionalizar as tarefas do setor administrativo de uma determinada organização. Mesmo com todo o conhecimento técnico e a experiência em programação, a opinião do profissional do setor em foco é de grande importância para a equipe de criação, pois ele adquiriu o conhecimento tácito, ou seja, provindo da experiência diária do trabalho.

O conhecimento adquirido com a rotina de um escritório, por exemplo, não pode ser deixado apenas para quem realiza a determinada tarefa; é necessário criar métodos e ferramentas que tornem possível compartilhar tal aprendizado. Isso é a gestão do conhecimento, em uma breve explicação: práticas e políticas que buscam ampliar o conhecimento individual dos profissionais a partir da socialização do conhecimento acumulado pelo grupo. Em uma situação mais delicada, como por exemplo o desligamento de um funcionário que carrega muitas informações consigo, os prejuízos à organização podem ser ainda maiores. Uma lacuna é criada, causando a interrupção de um importante projeto.

Quantas vezes, ao longo de um dia de trabalho, não queremos consultar uma pessoa que está fora no nosso círculo comum? O ser humano tem o costume de partilhar informações, na busca de aprimorar seus conhecimentos, desde a época em que utilizava os desenhos rupestres para se comunicar. Isso mostra que o ato de tornar o conhecimento comum é algo atávico, ou seja, que vem de um passado remoto.

Como exemplos de ferramentas de gestão do conhecimento que podem ampliar as discussões dentro de uma organização, no sentido saudável do termo, podemos citar a intranet e os blogs internos. Esses, elaborados pelo time de comunicação, tornam-se espaços que permitem discussões por profissionais de diversas áreas, ampliando o leque de alternativas para a solução de um problema em específico. Já se ouve falar em lugares em que empresas de diferentes setores de atuação, como produtores de filmes e ateliês, dividem espaços comuns, para aumentar o fluxo de informações e intensificar a inovação.

Nesses casos, quando as experiências são compartilhadas, vale lembrar um ditado árabe: quando dois homens se encontram e trocam pães, ambos saem exatamente com o que possuíam antes de terem os caminhos cruzados. Mas quando eles trocam idéias, os dois vão embora com o dobro de conhecimento.

--------------------------------------------------------------------------------
*Heitor José Pereira, doutor em Administração pela Fundação Getulio Vargas, é professor da FIA - Fundação Instituto de Administração e presidente da SBGC - Associação Brasileira de Gestão do Conhecimento.
--------------------------------------------------------------------------------


(Instituto Ethos)

terça-feira, 25 de março de 2008

Brasil deve se empenhar no mercado competitivo responsável

Por Rodrigo Zavala, da Rede Gife


O Brasil terá pouco espaço para ser um ator de destaque no mercado global responsavelmente competitivo caso não crie políticas públicas eficientes para isso. Embora iniciativas do setor privado tenham crescido, o país ainda está muito distante de seu potencial e, possivelmente, crescerá menos que outros países em desenvolvimento (Rússia, Índia, China e África do Sul) no mercado internacional.

As opiniões são dos especialistas convidados para analisar o relatório “O Estado da Competitividade Responsável”, em evento realizado pela Serasa, no último dia 18. O estudo é uma avaliação feita pelo Instituto de Pesquisa Social e Ética AccountAbility, sediado em Londres, Inglaterra, com a colaboração da escola de negócios brasileira, Fundação Dom Cabral, sobre práticas empresariais responsáveis ao redor do mundo.

Segundo o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann, o assunto historicamente foi negligenciado da agenda de desenvolvimento do país, já que o Estado sempre apresentou uma “estreiteza de pensar em longo prazo”. “Os projetos, quase invariavelmente, foram pensados para quatro anos”, alegou.

O relatório avalia a conduta dos setores privados e públicos em 108 países, examinando o esforço de cada um em tornar-se competitivo com a prática de negócios responsáveis. O topo da lista indica que os países desenvolvidos, em particular os europeus, estão na frente quanto à prática de negócios sustentáveis no coração das suas economias.

A Suécia aparece em primeiro lugar, seguido pela Dinamarca, Finlândia, Islândia e Reino Unido. O Brasil está na 56º posição, atrás de países como Chile (24º), África do Sul (28º), Costa Rica (36º), Peru (45º), El Salvador (49º), Uruguai (52º) e Colômbia (55º). “Os países que falharem em competir responsavelmente podem perder a oportunidade de participar em um mercado emergente que excede US$ 750 bilhões, ou mais de 1% do PIB mundial”, declara o documento.

Competitividade Responsável

Para explicar um pouco mais sobre o que significa o conceito, o relatório conta com prefácio de Al Gore: “um futuro sustentável implica em mercados que recompensem o desempenho em longo prazo. Isso significa encarar a prática empresarial responsável como a linha mestra para a qualidade dos negócios e sua administração. Implica também em políticas públicas e ações de incentivo que ajudem as empresas a fazerem o que é certo”, explica o ex-presidente norte-americano.

De acordo com o diretor do relatório pela AccountAbility, Alex MacGillivray, presente no evento, a competitividade responsável trata de fazer valer o desenvolvimento sustentável nos mercados globais. “Sãos os mercados que recompensam práticas de negócios que geram melhores resultados sociais, ambientais e econômicos; e que aplicam sucesso econômico para nações que encorajam essas práticas comerciais através de políticas públicas, normas sociais e ações de cidadania”.

O estudo, assim, é um levantamento de progressos que tem uma abrangência global. “A conclusão do relatório é que a responsabilidade pode e deve reforçar a competitividade para países em todos os níveis de desenvolvimento”, garante o diretor da AccountAbilitty, Simon Zadek, nos textos que acompanham o levantamento. Segundo ele, a competitividade responsável é parcialmente incentivada pelas forças do próprio mercado em dois níveis.

O primeiro, o micro, quando se assume que cada vez mais os empreendimentos e estratégias que a incorporaram são reconhecidas como tendo um “enorme” potencial para a criação de valor econômico e resultados lucrativos. “Uma agenda de inovação empresarial, que traduz os desafios sociais e ambientais de nossa época em oportunidades.”

O segundo, macro, tem como base o “exponencial crescimento econômico global das últimas décadas, que tirou centenas de milhões de pessoas da miséria”. O entendimento é que os mercados globais fomentam o comércio internacional, que representa agora mais de 20% do Produto Econômico Global, e tem um papel crucial no impulso dos resultados positivos.

Educação

A má qualidade da Educação no Brasil e os poucos investimentos em pesquisas e inovação foram colocados como algumas das políticas fundamentais para o fortalecimento do Brasil. Em uma análise resumida, Pochmann e o professor, pesquisador e gerente de Projetos da Fundação Dom Cabral, Cláudio Boechat, mostraram como essa condição inviabiliza a entrada do país no mercado global.

Por um lado, a hipercompetitividade criou um cenário de fusões, deixando grandes corporações com um imenso poder econômico. “Daqui a pouco, apenas quatro grandes grupos controlarão o mercado. Como você pensa o desenvolvimento sustentável de um país, cujas empresas não conseguem competir com o mercado de grande corporações?”, questionou o presidente do Ipea.

No ranking das 500 maiores empresas do mundo, divulgado todos os anos pela revista americana Fortune, o Brasil possui apenas cinco empresas. Já a China (que aparece no relatório sobre a competitividade em 87º), possui 32 empresas e espera chegar a meta de 150 na próxima década. O Brasil não tem esse objetivo traçado de forma clara, segundo os debatedores.

Para ser mais competitivo, o Brasil precisará oferecer conhecimento, pois este é o modelo econômico atual. Vale lembrar que, hoje, a principal pauta de exportações são os produtos agrícolas e minerais.

No entanto, o modelo econômico baseado em conhecimento requer uma elevada formação científica e tecnológica das nações, e, conseqüentemente, para tornarem-se extremamente competitivas no mercado globalizado. Alcançar um bom nível de capacitação científica e tecnológica é fundamental. ”Que tipo de educação nós temos? Os estudantes sequer dominam o português”, disse Boechat.

Os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), divulgados pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostraram que os alunos brasileiros obtiveram em 2006 médias que os colocam na 53ª posição em matemática (entre 57 países) e na 48ª em leitura (entre 56 países).

Outro dado preocupante foi apresentado pela Universidade de Brasília. Pesquisa realizada pela instituição mostrou que a maior parte dos cientistas dos países ricos trabalha em empresas privadas. No Brasil, ao contrário, eles se concentram em universidades, a maioria mantida com dinheiro público. Esse contexto é ruim para as empresas brasileiras por um motivo simples: a pesquisa é paga pelo governo e não se traduz em inovação para o setor privado.


(Envolverde/Rede Gife)

sexta-feira, 21 de março de 2008

Nova liderança

Nádia Rebouças

Os sinais vieram devagar. Aos poucos a demanda cresceu para projetos empresariais, onde a liderança ganha foco. Há anos, nas ONGs, esse tem sido o tema e justifica o crescimento da Ashoka e da Avina, no Brasil e no mundo. O investimento tem sido nos empreendedores sociais, em líderes que pensem e atuem na sociedade construindo um mundo diferente. As necessidades de transformação cresceram. As notícias foram ganhando espaço e credibilidade.
Desde a Eco 92, sabemos das ameaças do aquecimento global. Na ocasião, uma adolescente canadense convidou líderes do mundo todo a reformular suas atitudes e valores. O filme, que está disponível no Youtube (http://www.youtube.com:80/watch?v=5g8cmWZOX8Q), levou um parceiro jovem da R&A a nos perguntar outro dia: “Por que não muda?”. Muda. Vai mudando. A “ficha” vai caindo aos poucos... até que cai a “jaca”. É esse o momento que estamos vivendo. Nós, pessoalmente temos horror a mudanças. Imaginem, então, o medo estendido a toda uma civilização? Imaginem o medo daqueles que, de certa forma, controlam o mundo quando percebem que terão que encontrar outras formas de fazer? Imaginem o que nos desafia como profissionais de RH e comunicação que passamos a ser linha de frente na construção de uma nova cultura empresarial que dê conta dos desafios do novo século?

Vivemos nos últimos 20 anos o processo de avanço de uma nova consciência. Nesse momento, a nova realidade impõe-se, ganha a mídia e os movimentos de transformação acentuam-se. As mudanças acontecem em ondas. E sempre, quando a onda vai e vem, alguns passos são dados na direção do novo.

A consciência de que a nova empresa, comprometida com o desenvolvimento sustentável e que já tem o seu risco medido na Bolsa de Valores, levou os RHs e profissionais de responsabilidade social a investirem em uma nova liderança empresarial. Na prática há uma nova liderança na sociedade, influenciando as cidades, os Estados o mundo. São os formadores de opinião. Os RHs passam a ter uma importância estratégica no desenvolvimento da liderança nas organizações. Como transformar profissionais que não foram capacitados em Gestão de Pessoas a serem os gestores desses novos tempos. Muitos líderes atuais, especialmente nas áreas operacionais das grandes empresas, têm um perfil muito técnico, mais facilidade para se relacionar com máquinas e não com seres vivos e complicados, como somos todos nós. Alem de transformar a liderança que já está nas organizações é um desafio contratar engenheiros que possam ser os líderes de amanhã e influir na formação dos estudantes já para criar novos paradigmas humanos na formação dos profissionais.

Assim nascem projetos nas empresas que nunca cheguei a sonhar. A comunicação ganha mais importância, não só temos muito mais cuidados e estratégias para construir os veículos internos de comunicação, mas também fornecemos informações mais transparentes, educamos.

Para as empresas, com olho no futuro, está cada vez mais claro que planilha do Excel, manuais, códigos de ética não dão conta de anos de uma cultura coorporativa burocrática, hierárquica, autoritária e que despreza o potencial humano. Precisamos mudar o estilo de nossas lideranças. Mexer com os sentires e pensares.

Acreditar em treinamento, em adestramento, silêncio e obediência sem reflexão não mais são receitas de sucesso. Uma empresa não se prepara para o mundo de hoje, matando a auto-estima de seus empregados e impedindo a criatividade. É cada vez mais necessária uma liderança que gere motivação para colaborar, converse com empregados, estimule a autocapacitação, converse com suas comunidades de influência, para dar conta do mínimo exigido para uma empresa socialmente responsável. Comunicação face a face virou uma nova onda. A onda que vem depois de termos nos entregado aos fios, aos teclados, aos visores, aos celulares... Podemos agora colocar a tecnologia no seu devido lugar. O fascínio vem diminuindo para muitos e deixou novos desejos: apetite para o diálogo, por estar junto, por se cumprimentar nos elevadores, por poder olhar outro simplesmente, conversar.

Investir no desenvolvimento humano, no empreendedorismo, na nossa capacidade de sonhar um futuro diferente que respeite a vida, está ganhando sócios. Tenho visto muita liderança empresarial completamente deslumbrada por perceber que podem SENTIR. Com o tempo, talvez muitos outros possam descobrir felicidade no trabalho


Nádia Rebouças
Especialista em comunicação e Diretora da Rebouças e Associados. Atualmente trabalha com Planejamento Estratégico de Comunicação para Transformação e Desenvolvimento Humano em empresas e organizações da sociedade civil.

Para se tornar responsável, empresa deve aliar responsabilidades

Por Cássia Gisele Ribeiro, do Aprendiz

“Não é porque uma empresa separa seu lixo que ela é sustentável. É preciso analisar quais são os reais impactos da produção, dados normalmente maiores do que parecem”. A opinião é do gerente executivo de desenvolvimento e orientação do Instituto Ethos João Gilberto Azevedo, que alerta sobre a substituição dos projetos de responsabilidade social financiados por empresas privadas, pelos de responsabilidade sócio-ambiental.

“É importante que todas as ações levem em conta que, antes de fazer um projeto de educação ambiental para outros, é preciso tornar suas próprias ações cotidianas responsáveis”, complementa Azevedo, lembrando que alguns dos agentes com maior responsabilidade sobre as questões ambientais são as grandes fábricas e indústrias.

O diretor de meio ambiente da Tetra Pak, Fernando Neves, concorda. “Por isso, buscamos investir na nossa própria produção”, diz, explicando que a empresa possui uma área de reflorestamento e um amplo programa de reciclagem das embalagens produzidas pela empresa.

Para Azevedo, no entanto, além de conhecer o impacto da produção, é preciso ter a certeza de que os materiais utilizados nos escritórios e fábricas são produzidos de forma responsável.

Para o diretor de responsabilidade social da Klabin, Wilberto Lima, que já ganhou um prêmio ECO, o trabalho de responsabilidade sócio-ambiental não entra na lógica empresarial de resultados para ontem. “Percebemos que as ações não têm resultados a curto prazo. Entretanto, elas são mais consistentes”, diz. A empresa possui uma série de ações na área, entre elas a manutenção de um parque ecológico com mais de 200 hectares de florestas preservadas, e o uso de apenas madeira de reflorestamento para a produção dos papéis.

Azevedo destaca que para uma empresa ser considerada sustentável, é preciso que esta alie desenvolvimento sustentável, responsabilidade social e responsabilidade econômica, ou seja, quando firma um real compromisso com a sociedade. “Esse tripé é indissociável”, diz.

“Muitas vezes parece mais fácil investir na área ambiental, porque não há necessidade de se mostrar resultados imediatos”, afirma Azevedo. Por isso, há duas certificações concretas nessa área: uma delas é a ISO 14000, que certifica as empresas consideradas responsáveis na área ambiental, e o ISO 26000, de empresas que promovem desenvolvimento sustentável.



(Envolverde/Aprendiz)

domingo, 16 de março de 2008

os desafios do jovem empreendedor


CJE-FIESP: os desafios do jovem empreendedor

Por Naná Prado, do Mercado Ético







O que é possível fazer para respeitar valores e agir com transparência? E o que fazer pelo público interno da empresa? É possível tornar a empresa um exemplo de gestão ambiental? Como deve ser o relacionamento da empresa com a rede de fornecedores e parceiros? E como garantir a confiança de clientes e consumidores?

Esses são apenas alguns dos questionamentos de um grupo que vem crescendo muito desde 2005. O Comitê de Jovens Empreendedores (CJE) da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) trabalha para construir, com ética e comprometimento, uma nova identidade empresarial, por meio do fortalecimento do empreendedorismo paulista.

O grupo de jovens empreendedores começou com poucos membros, mas hoje são mais de 400 que se reúnem com freqüência em reuniões de trabalho na Fiesp e em seminários, com o objetivo de estudar, propor e realizar. “Os membros do Comitê têm entre 20 e 35 anos. Ainda tem poucas mulheres, aproximadamente 15%, mas queremos mudar esse quadro”, conta Sylvio Gomide, diretor titular do CJE. “Nossa idéia é formar novas empresas e criar uma nova identidade empresarial”, acrescente ele.

Essa nova geração que está assumindo a área empresarial, segundo Gomide, tem um desafio muito grande. “As gerações anteriores buscavam o lucro e o desenvolvimento sem pensar tanto em questões sociais e ambientais. Hoje sabemos que temos que crescer aliando questões de responsabilidade social e ambiental”.

“Não somos uma geração que reclama, somos uma geração que faz, que busca soluções e que cobra”, avalia Pierre Ziade, coordenador do CJE. Ziade acredita que o Comitê de Jovens Empreendedores tem o papel de ajudar os membros a desenvolver a empresa com foco na sustentabilidade. “Temos muitos membros que são filhos de empreendedores, outros já nasceram com o empreendedorismo na veia, mas todos têm, em comum, dúvidas e anseios por um mercado mais justo”.

Em novembro o Comitê lançará, em uma Rodada de Negócios, um Manual do Jovem Empreendedor que será distribuído em diversas instituições. O Manual será um guia prático para auxiliar os jovens na construção e manutenção de seus próprios negócios. “Não temos a pretensão de entregar o mapa da mina, mesmo porque existem muitos, mas trazer à tona algumas ferramentas que podem potencializar sua chance de sucesso”, afirmam os membros.

Sabendo que em todo o mundo, um em cada cinco habitantes com idade entre 15 e 24 anos está desempregado e que a realidade brasileira não foge muito desses números, o Comitê acredita que é preciso multiplicar empresas, transformando os jovens em empresários capazes de criar negócios de sucesso e, portanto, de contribuir para ampliar as oportunidades das novas gerações. Afinal, ao empreender, o jovem deixa de figurar nas estatísticas do desemprego e abre postos de trabalho para outros.

O empreendedorismo é muito importante para a economia de um país em crescimento, como é o caso do Brasil. Cada nova empresa bem-sucedida significa mais postos de trabalho, aumento de renda e fomento de um círculo virtuoso que aumenta a circulação de capital, enriquecendo o país. Mas, claro que isso tudo deve ser aliado a práticas de responsabilidade social e ambiental e com foco na sustentabilidade.

No Manual, os Jovens Empreendedores pretendem mostrar os passos mais comuns e certeiros para a criação de uma empresa, desde a concepção e visão de negócios até a abertura e fechamento burocrático das firmas, além de dicas de renomados empresários do mercado. “Tratamos tudo numa linguagem clara e dinâmica para acompanhar a velocidade e a necessidade do jovem de hoje”, finaliza Gomide.



(Mercado Ético)

Um intelectual em minha empresa

Por Daniella Lima*

Os especialistas que se dedicam à implantação da sustentabilidade enfrentam intensa e frustrante resistência por parte de profissionais, equipes e organizações. A frustração ao não verem palavras tornarem-se ações éticas chega a tal ponto que muitos falam que os princípios apontados pelo Triple Bottom Line são apenas “palavras ao vento” e que Sustentabilidade e Responsabilidade Social são apenas “efeito de real”.

Para o Professor Evandro Vieira Ouriques, que criou em 2005 a Gestão da Mente Sustentável: o Quarto Bottom Line, fruto de seu trabalho como pesquisador do CNPq, coordenador do Núcleo de Estudos de Comunicação e Consciência da ECO.UFRJ e consultor de organizações do porte por exemplo da DaimlerChrysler, ETHOS, Light, Millennium Project, Banco do Brasil, ABERJE e Vale, há solução:

“Só é possível atitude sustentável concreta quando o profissional (e a organização) torna-se senhor de seus próprios pensamentos, percepções e sentimentos, eliminando deles os estados mentais (idéias e emoções aprendidas no tempo da insustentabilidade) que, inconscientes, insistem em comandar a ação insustentável no mundo. Esta é a maneira segura de termos o que precisamos hoje: construirmos, com a força de nossa vontade instrumentada por uma metodologia transdisciplinar, testada e de ponta, uma Mente Sustentável”.

Veja a entrevista publicada na Revista da ABERJE:

Para ele, os estados mentais, a compaixão, a generosidade e uma mente sustentável são essenciais para uma boa comunicação empresarial. Poucos fazem idéia de como aplicar tudo isso? Pois então se prepare. Evandro Vieira Ouriques, consultor de Desenvolvimento Humano Sustentável e coordenador do Núcleo de Estudos Transdisciplinares de Comunicação e Consciência da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), lança questões intrigantes para refletir.

O que são "estados mentais" e qual a relação deles com a eficiência em comunicação empresarial?

Estados mentais são pensamentos e afetos que informam a tomada de cada decisão. São fluxos de idéias, sentimentos e emoções que nos mobilizam a agir e legitimam a decisão que tomamos. Experimente olhar agora para alguma situação a sua volta. Observe que em sua “tela mental” vão aparecer pensamentos, julgamentos, sensações de agrado ou desagrado, vontade de tomar providências, ou algo em relação a essa proposta. Quase sempre os profissionais reagem de maneira impulsiva e mecânica com base nessa tela mental. E aí vão ser necessários recursos de toda ordem e, sobretudo, da área da comunicação, para re-trabalhar a situação.

Como se pode treinar para agir desse modo?

Criamos a metodologia Gestão da Mente Sustentável-GMS, o quarto bottom line, que torna operativos os outros três, na medida em que os faz reais graças à eficiência sistêmica do domínio dos estados mentais. Hoje, a liberdade, como mostrou Armand Mattelart, não pode mais ser apenas o exercício da vontade, mas precisa passar pelo domínio do processo de formação da vontade, para que esta seja uma vontade comprometida com a vida.

Como dominar a própria vontade?

A Mente Sustentável é a dimensão madura do compromisso com uma nova organização, pois permite que cada pessoa envolvida no processo de construção da responsabilidade empresarial e da sustentabilidade instale-se como um sujeito pró-ativo. Instale-se em si mesmo, volte a ter voz própria, por meio do exercício da responsabilidade pessoal sobre o fluxo de seus estados mentais, de maneira a eliminar dele, gradativamente, os pensamentos e afetos insustentáveis. E, assim, liderar pelo exemplo.

Cite formas de estimular, de forma prática, estados mentais que favoreçam uma comunicação interna mais efetiva.

A primeira delas é compreender quais os fundamentos do sistema de pensamento que geram insustentabilidade. A teoria social e o senso comum insistem em dizer que as práticas humanas no Estado e no Mercado são movidas apenas pelo sistema do interesse e pelo sistema do poder. Observe as seqüências mentais que tendem a atravessar você e sua equipe: “a vida é cruel”; “ser bom é ser bobo”; “isto não vai ficar assim, ele(a) vai ver”; eu não sou palmatória do mundo”; “confio desconfiando”; “porque é que eu vou ser diferente?”.

Mas as coisas não são assim mesmo no mercado?

Perceba o que move a sociabilidade primária, ou seja, na família, na amizade e na vizinhança. A relação entre os pais e os filhos, por exemplo, é movida pelo sistema da generosidade, no qual o que move a ação é a confiança, o amor, a entrega, a ação desinteressada. Esses são os estados mentais que permitem a cooperação, a compaixão, o diálogo verdadeiro. Valores sem os quais seria impossível a permanência juntos. Portanto, a auto-observação do fluxo dos estados mentais permite no dia-a-dia a progressiva substituição, em rede, do que motiva a ação no mundo. Percebendo, por exemplo, onde é que escondemos o que nos irrita nos outros e os prejuízos resultantes da imposição, da tentativa de convencer o outro para que ele faça o que se quer, o mais rapidamente possível. Parafraseando a carta de fundação da UNESCO, “é na mente que a insustentabilidade começa é na mente que a sustentabilidade é conquistada”.

De que forma esse conceito também pode influenciar no relacionamento da empresa com a mídia?

A mídia hoje se apresenta como sendo o próprio mundo. As pessoas sentem e pensam por meio da mídia que, muito raramente, as ajuda a parar e refletir. A aceleração que os apresentadores dos telejornais utilizam é incompatível com o ritmo respiratório, metabólico. A respiração fica suspensa e impede que as informações sejam metabolizadas e que a nossa mente tenha tempo de excretar o que não serve. Nesse ambiente, as pessoas tornaram-se o centro da exibição da potência da cultura tecnológica e não de sua própria potência. O sujeito tende intensamente a acreditar que é o que ele não é; que precisa do que não precisa; que a vida é o que ela não é; e que ele está fazendo uma determinada coisa quando, de fato, está fazendo o oposto. Isso fica muito claro na dissociação entre palavras e atos que marca muito as organizações.

Currículo na mesa

Entrevistado: Evandro Vieira Ouriques
Formação: Doutor em Comunicação e Cultura pela UFRJ e Pós-Doutor em Cultura de Comunicação, Globalização de Mercados e Responsabilidade Ética.
Trabalhos: Tem atuação internacional, inclusive junto à ONU e a UNESCO, para quem organizou o livro Diálogo entre as Civilizações: a experiência brasileira.
Clientes: Atende a organizações como ETHOS, ABNT-ISO 26000, LATEC.UFF, Tribunal de Justiça do Estado do RJ, DaimlerChrysler, Rebouças&Associados, Celpa, Light, Faber Castell e Companhia Vale do Rio Doce.

--------------------------------------------------------------------------------
*Daniella Lima é jornalista. Matéria publicada originalmente na Revista Comunicação Empresarial - número 65, Dezembro de 2007, publicação da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial-Aberje, páginas 32-34.
--------------------------------------------------------------------------------


(Mercado Ético)